terça-feira, 6 de abril de 2010

Boff & Vieira

Namastê!

Esta noite na aula de Didática - em breve me tornarei, com muito orgulho, umas das mais novas licenciadas em História de Minas e do país - li e reli dois trechos escritos por dois grandes homens que, apesar de separados no tempo por séculos, são ligados - de uma forma ou de outra, acho desnecessário discutir isso aqui - à Igreja Católica, ou melhor, a uma tradição cristã, digamos.

Como sou totalmente contrária às apologias religiosas, e que fique bem claro, então, que não estou fazendo propagandas aqui, começei a ler as passagens já de bico virado, fazendo cara de preguiça ideológica. Apesar dos textos tratarem de temas bem distintos - o do Leonardo Boff sobre a impossibilidade da imparcialidade humana, da subjetividade inerente às interpretações; e o do Pe. Antônio Vieira sobre o consumo, o desgaste do amor pelo inplacável e impávido tempo - adorei os dois e tive que me render às belas e sábias palavras destes grandes humanistas e pensadores. Independentemente da religião, das ideologias, das crenças... Acho que a Literatura é assim, parafraseando Clarice: "ou toca ou não toca."

Gostei taaaantoooo que resolvi compartilhar com vocês.

Bjokas ainda lambrecadas de ovo de Páscoa!

;)

***


Todo Ponto de Vista é a Vista de um Ponto
Leonardo Boff

"Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura. A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, com que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação. Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê e relê com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita."


Amor Menino
Pe. Antônio Vieira

"Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso, os antigos sabiamente pintaram o amor menino, por que não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê quem não via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda essa diferença é pequena. O tempo tira a novidade das coisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usados para não serem os mesmos. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor. O mesmo amor é causa de não amar e o ter amado muito, de amar a menos."



Um comentário:

  1. este poema é maravilhoso o li aos 16 anos,e hoje muito tempo depois o procurei, ele diz como na medida certa, tudo sobre o amor, na sua verdade mais dura, o que queriamos que fosse mentira, mas sendo tudo uma triste verdade.

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