terça-feira, 18 de maio de 2010

Instituto Butantan

Namastê!

Nunca fui uma boa aluna de Ciências. Na verdade, minha área sempre foi a de Humanas mesmo, desde pequenininha: ler e escrever. Pensar. Refletir. Escrever e ler, sempre! 

Até que... Eis que surgiu em minha vida uma pessoa chamada Dimas, o técnico dos laboratórios de Biologia do colégio em que tive o privilégio de estudar.

Com as aulas práticas, apesar da minha aversão inicial ao contato com aquele monte de seres empalhados ou mergulhados no formol (besouros, borboletas - estas que, por serem as minhas preferidas do mundo insetóide, eu tenho a mais completa ojeriza de, ao invés de vê-las voando ter que vê-las espetadas em um mostruário - cobras, aranhas, entre tantos outros exemplares do acervo) e, sobretudo depois do dia em que tive que montar uma representação de uma célula em meia bolinha de isopor, com cera e um ferrinho retorcido em forma de mitocôndria, tomei paixão pelo espaço do laboratório.

Apesar daquele não ser o meu espaço, o espaço escolhido para o exercício da minha futura carreira de, também, professora, por ele criei carinho. E, o mais impressionante de tudo: criei carinho pelos seres, vivos ou não, ali presentes. Fui cativada e aprendi a entender e respeitar a importância de vidros de formol e corpinhos mortos, esticados em conserva.

No ano que passou, quando antes de ir para a Suíça eu fui visitar meus avós em Diamantina, um evento já havia me feito recordar, e com muita saudade, aquelas aulas práticas de Biologia e o sorriso aberto do meu querido incentivador: Paulinho, meu primo, - quase um biólogo, formatura ainda este ano - e que foi de carona comigo para a casa da vovó, levava consigo um aparato biológico de coleta. Como ele pesquisa anfíbios, - sim, gente: sapos, salamandras e rãs... vive disso e ama estes seres verdes e gelatinosos - aproveitou para encontrar, matar e colocar, para a eternidade, alguns bichinhos em posição anatômica. Fomos de BH a Diamantina, durante os quase 300km de distância a serem percorridos, discutindo a importância desta forma de assassinato, digamos, científico. Além de engraçado e de ter me lembrado dos bons tempos do colégio, fiquei convencida da importância deste genocídio anfibóide.

Este final de semana, contudo, ao ouvir a notícia do incêndio do arquivo de aranhas e cobras do Instituto Butantan, uma coleção formada e selecionada à dedo desde 1901, fiquei arrasada.

Multirão dos pesquisadores e funcionários do Butantan, tentando salvar alguma coisa...

Pensei no Dimas, no Paulinho, na minha tia Iaiá (professora da UFOP, bióloga doutora em estudar baratas e a abelha que entra dentro do bico do gavião real da Amazônia - não é piada, é verdade, juro!). Pensei nos incontáveis pesquisadores que ali estudaram e que, de forma quase que impossível de ser recontada, criaram a história do Instituto e contribuiram para a sua riqueza acadêmica. Pensei na vida das tantas pessoas que foram salvas devido aos soros produzidos por seus laboratórios. Pensei nas espécies raras queimadas, perdidas... Irônico pensar, também, que o formol que as conservava para a eternidade foi o responsável pela facilidade e rapidez de sua perda... A vida é mesmo muito curiosa, tanto para as boas como para as más coincidências.

Este post fica, então, dedicado a todos os pesquisadores, biólogos ou não, que perderam, em parte ou no todo, o objeto de suas pesquisas... Já imaginaram, mutatis mutandis, a incalculável tristeza de se perder todas as suas fotos antigas (e novas), todo os arquivos do seu HD, frutos de uma vida de recordações e escritos, em um só dia?

Nestas horas é que eu gostaria de ser uma milionária excêntrica e engajada, e com muitos milhões no bolso, para doar uma parte deles à reconstrução do Butantan. Que tal, Eike?

Bisous

Nenhum comentário:

Postar um comentário